Acordei bem, fiquei o dia inteiro moscando no parque sem nada de útil pra fazer.
Agora a noite resolvi ficar no pc, encontrei o vídeo de despedida do Lucas.
Pra quem não sabe ele é meu melhor amigo, meu companheiro de tudo. O tipo de amigo que a gente não pede mais licença quando entra na casa dele, chama a mãe de tia, o irmão de primo, o vô de vô tbm. Tudo isso torna mais difícil aceitar Máyra sem Lucas.

Só ele tocava a campainha 2h da manhã com uma garrafa de vodka querendo "desafogar em alcool", falava as coisas certas na hora certa e me fazia ouvir (e levar em consideração) tudo. Foi com ele que eu aprendi as melhores e as piores coisas, do lado dele que eu criei coragem para fazer as coisas mais produtivas e as maiores bobagens da minha vida. As melhores idéias de girico eram as nossas! hahaha Ainda dou risada lembrando da bicicleta com remendo de silver tape *ideia de girico, claro!*
No vídeo a gente falava sobre as coisas que ja passamos e o que estava por vir, muitos planos, muitos mesmo e com certeza íamos colocar em pratica pq não havia nada que não pudessemos fazer.
Ele era mais do que um irmão, era parte de mim. Não havia nada que não soubesse ou não percebesse, por mais que eu negasse ou tentasse esconder ele perceberia só pelo jeito que eu falo pq era como olhar nos próprios olhos, ele era eu e vice-versa.

Uma parte de mim morreu junto com ele e eu não estava pronta pra isso, acho que nunca estarei. Foi como se tirassem a melhor parte de mim e jogassem em algum lugar onde eu jamais vou estar. Parece que eu superei todas essas coisas, sempre falo com muito carinho e com saudades dele mas quando me deparo com as nossas coisas eu simplesmente nao sei como reagir, fico parada olhando e desejando ir para onde ele está, sentindo falta de tudo o que ele representa pra mim e me perguntando pq me tiraram a coisa que eu mais gostava.
Naquele dia eu comecei a me sentir sozinha.
Era com ele que eu passava o natal, ano novo, páscoa, aniversário; pouco importava o lugar se eu estivesse ali com ele fazendo as mesmas coisas de sempre, seguindo a nossa rotina. Eu lembro do fim da aula na sexta feira, eu saía correndo pro ponto de onibus mas ele sempre me alcançava e me arrastava pra maquina de fotos 3x4, lá dentro a gente sempre fazia caretas e palhaçadas, depois ele me fazia prometer que nunca mostraria aquelas fotos pra ninguém pq elas ficavam horríveis!
Também me lembro do dia em que ele me disse que ia mudar pro Paraná, chorando, fazendo mil planos pra ficar, xingando, reclamando e eu disse que distância nenhuma nesse mundo ia nos separar. Foi o maior porre da minha vida mas eu me lembro de cada segundo, de cada piadinha sem graça em que choramos de rir, cada tombo. 16 anos e muita história pra contar, cada uma reencenada naquele dia pra ficar sempre na memória.

Depois que eu fiquei sabendo, chorei, fiquei deitada no chão do meu quarto pensando em como a vida foi injusta em levar parte de mim sem sequer me avisar, pq a pessoa que me fazia tão bem foi embora tão cedo?
Eu tenho que aceitar mas não consigo, as vezes tudo me lembra ele, tudo o que eu sou hoje tem influencia dele e das coisas que vivemos. Isso me faz parar pra pensar se tudo foi bom pq não duraria muito.

Eu podia ter passado aquela ultima noite com ele, devia ter pego o primeiro onibus pro Paraná só pra segurar a mão dele a noite inteira e dizer que tudo ia dar certo. Mas agora isso não importa e por mais difícil (e estranho) que seja, está tudo guardado dentro de mim, tudo como deve ser. O segredo é não deixar transparecer.